sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Sítio Vagalume


Quem conhece sabe. Siga as bolinhas vermelhas e brancas.

É um cantinho que está na família há 3 gerações. Fica nos arredores de SP. Para chegar lá, anda-se por asfalto, cruza-se pequenas cidades, e logo depois percorre-se uma sinuosa estradinha de terra. Seu portão é cercado por uma bela primavera rosa, e uma placa de madeira com o nome Vagalume entalhado, exatamente como toda entrada de sítio deve ser.

Tem lindas, enormes e incontáveis araucárias, e um lago que nos dias ensolarados reflete a cor verde da natureza, de uma forma que eu nunca vi igual. Tem uma casa no alto do morro, uma churrasqueira, quadra de tênis e dois campos: um de futebol e outro de bocha. Tem o gramado na frente da casa, onde seria o projeto da piscina que nunca existiu. Onde eu e o Thomas, quando éramos pequenos, tomávamos banho em caixas de isopor. Tem pinhão pelo chão, tem milharal e belas palmeiras. O por do sol é único, e o entardecer lá possui algo de místico. As Páscoas passadas no sítio sempre foram inesquecíveis. Tem as velhas balanças do vovô, e os velhos bunkers de areia. Ficaram na história os jogos de golf, e na memória os pedidos de afastem-se, quando a jogada da vez era mandar a bolinha sobre a casa. Tem a floresta dos eucaliptos, onde já houve mais de uma casinha na árvore. Tem a trilha, que alguns chamam do Amor, e outros conhecem por Trilha do Bambu. Tem a fogueira, o círculo de pedras. Tem a casinha de hóspedes, com seus mistérios e insetos variados, e também os pessegueiros. Na minha infância, logo que os primeiros pêssegos surgiam, eram envoltos em papel branco, para não virarem alimento de passarinho.

Tem equinos e bovinos, e dois pastos imensos, um de cada lado da represa. Num deles foi gravado pelo Fantástico o programa histórico do Pedro fazendo ski na grama, fita que até hoje ninguém conseguiu recuperar nem assistir, e que muitas pessoas da terceira geração duvidam que exista. Tem a casinha dos caseiros, que às vezes é mais disputada como dormitório do que a casa de cima. Ficaram na minha cabeça alguns cavalos: Chopp foi o meu primeiro. Aprendi a montar com a Ysatis, Yanna e Yaffa. Lindas éguas. Tem duas cocheiras, e um galinheiro. Todo mundo se lembra da época dos gansos selvagens. Eram bons de guarda. Hoje são 80 cachorros. Não são 8, são 80 mesmo, com o zero. Já existiram Pastores Alemães e São Bernardos, mas hoje são viralatinhas de todas as variedades . Eu tinha os meus: Juju, Bolota, Baby, Zé, Caipirinha, Coca, Tina. Cada um com a sua história, que se mescla com a minha. Os cães são responsáveis pelo comitê de boas-vindas ao sítio, todos querem cheirar os pés dos recém chegados e ganhar um afago. A não ser que seja noite, e você um estranho, aí provavelmente a recepção não será tão calorosa, mas sim muito mais intensa e próxima. Do seu pescoço.

Nos últimos anos o sítio ganhou algumas novidades: uma tirolesa, sobre a lagoa, onde todos já se dependuraram, ou então caíram. Sempre existe o boato de qualquer dia desses vão soltar um cachorro lá de cima. Há uma rampa de madeirite, que já foi utilizada por bikes, skates e pessoas, e o destino é sempre o mesmo: o fundo enlameado da represa. Tem uma cama elástica gigante, e todos se lembram do aviso: não pule se estiver chovendo. Ela é ótima para saltos e cambalhotas, mas seu uso mais freqüente é como “lounge” da galera tomando cerveja ou conversando.

Nós, filhos e netos, membros da segunda e terceira geração, freqüentamos sempre o sítio. Alguns mais, outros menos. Tem uma pessoa da primeira geração que estará lá eternamente. E há quase quatro anos chegou a primeira pessoa da quarta geração Vagalume: a Lorena. Eu espero que ela possa ter tantas lembranças boas quanto eu tenho desse lugar, e que ela nunca se esqueça do conselho que todos sempre ouviram (e que a Jill por uma vez esqueceu, justamente quando não deveria): nunca vista sua galocha sem antes batê-la no chão, para afugentar possíveis visitantes aracnídeos!

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